A iniciativa da homenagem ao Nucab foi da vereadora Iara Bernardi (PT), que ressaltou a importância da entidade para a inserção do negro na educação de nível superior
Os 40 anos de fundação do Nucab (Núcleo de Cultura Afro-Brasileira), que hoje integra a Uniso, foram celebrados em sessão solene da Câmara Municipal na noite desta sexta-feira, 27, por iniciativa da vereadora Iara Bernardi (PT). Além da parlamentar, a mesa de honra da sessão solene foi composta pelas seguintes autoridades: professora Ana Maria Souza Mendes, coordenadora do Nucab; Ana Lúcia Sabadin, diretora de área da Secretaria de Cultura; Fábio Arruda, presidente do Clube 28 de Setembro; e Bernardino Antônio Francisco, co-fundador do Nucab.
Iara Bernardi lembrou que foi escolhida pelo Frei Davi, líder negro da Fundação Palmares, e pelo movimento negro para ser relatora do projeto de lei das cotas raciais. “Para mim, foi uma grande honra ser a relatora da política de cotas na Câmara dos Deputados, depois aprovada no Senado e sancionada pelo presidente Lula. Foi um marco na história da educação brasileira a presença dos negros e indígenas nas universidades públicas”, afirmou a vereadora, enfatizando que a educação básica para todos demorou a se efetivar no Brasil, especialmente para negros e indígenas.
“Nas nossas universidades, nós víamos classes inteiras só de alunos brancos, sem a presença da população negra no ensino universitário. A nossa Universidade Federal de São Carlos foi uma das primeiras a adotar a política de cotas para negros e indígenas e isso fez uma diferença muito grande na universidade e no dia a dia dos brasileiros”, afirmou Iara Bernardi, creditando as desigualdades sociais da nação à demora do país em admitir os mais de 300 anos de escravidão em que a população negra foi alijada de seus direitos.
Para a vereadora, o Nucab muito contribuiu para combater o racismo introjetado na cultura brasileira, inclusive no campo da educação, segundo ela, onde o ensino não levava em conta a verdadeira história dos negros e da escravidão no Brasil. “O Nucab fez e faz esses estudos que contribuem para que tenhamos na educação em Sorocaba a verdadeira história das etnias negras”, enfatizou. A vereadora também citou o antropólogo congolês-brasileiro Kabengele Munanga e celebrou a memória do professor e líder negro Jorge Narciso de Matos (1945-2003), um dos fundadores do Nucab, que dá nome à Biblioteca da Câmara Municipal de Sorocaba.
Vozes do Nucab – Bernardino Francisco, co-fundador do Nucab, relembrou a história da entidade, que teve início com a fundação do ICAB (Instituto de Cultura Afro-Brasileira), em 28 de setembro de 1979, órgão autônomo e ligado à Sociedade 28 de Setembro. Lembrando palavras do fundador e primeiro reitor da Universidade de Sorocaba (Uniso), professor Aldo Vannucchi, Bernardino Francisco afirmou que o Nucab teve um papel crucial na consolidação da Uniso. O co-fundador do Nucab lembrou também grandes historiadores do país e de Sorocaba, como Clóvis Moura, que contribuíram com o ICAB e o Nucab.
“Nesses 40 anos, foram muitos os momentos que marcaram de forma indelével o esforço do Nucab pela inclusão sociocultural do negro, iniciada já nos tumbeiros, passando pelas usinas de açúcar, as fazendas de café e a exclusão do mercado de trabalho e a perpetuação do subemprego, além das dificuldades de acesso à universidade por absoluta falta de políticas públicas voltadas para a educação, saúde e saneamento básico, onde os negros e a maioria carente são as primeiras vítimas”, afirmou Bernardino Francisco em seu discurso, destacando o papel dos bolsistas, graduados e pós-graduados que passaram pelo ICAB e Nucab, engajando-se nessa luta. “Consciência e atitude é o único caminho de inclusão sociocultural do negro”, enfatizou.
A professora Ana Maria de Souza Mendes, também co-fundadora do Nucab e sua atual coordenadora, iniciou seu discurso citando o líder negro norte-americano Martin Luther King (1929-1968) e lembrou que, juntamente com Bernardino Francisco e Jorge Narciso de Matos, percebeu a necessidade de criar uma instituição com a ótica dos próprios negros e não com a ótica do colonizador. “Dizia-se: ‘Todo negro é livre a partir da Lei Áurea’. Livre, mas sem emprego, sem ter para onde ir. Afinal, foram 300 anos de história sob a escravidão. E quando criamos o Icab, nosso objetivo era resgatar essa história, o quanto já havíamos trabalhado, construído. Não éramos cidadãos de segunda categoria. Eram extremamente úteis, profundamente brasileiros”, afirmou Ana Maria Mendes, que relembrou várias ações da Icab e do Nucab ao longo desses 40 anos, ressaltando também o papel – segundo ela fundamental – de Jorge Narciso de Matos.
Fábio Arruda, presidente do Clube 28 de Setembro, enumerou as diversas entidades que nasceram a partir do clube, como o Quilombinho. “A luta é sempre árdua, continua e deve seguir sempre. E estamos preparados para a evolução e o caminho é a educação”, enfatizou destacando o papel do Nucab nesse processo. Além dele, também estiveram presentes na sessão solene outros fundadores e participantes do Nucab como Ondina Seabra, José Carlos Moura, historiador Ademir Barros dos Santos, Eduardo Juarez Rodrigues e os conselheiros Marcos Marcelo e Pedro Laudelino. O jornalista Davi Deamatis, ex-secretário de Comunicação Institucional da Câmara Municipal, também esteve presente na sessão.
O Nucab é, hoje, um órgão complementar da Uniso, que atua no desenvolvimento de pesquisas e na geração de trabalhos de extensão, visando ao conhecimento e à difusão das raízes culturais africanas. O evento contou com apresentações musicais da Família Marciano, que, além de música brasileira, cantaram clássicos da música popular da África do Sul, entre eles, a música “Nkosi Sikelel’iAfrika”, do compositor de etnia xhosa Enoch Sontonga (1873-1905), que se tornou o Hino da África do Sul. O evento foi transmitido ao vivo pela TV Câmara (Canal 31.3; Canal 6 da NET; e Canal 9 da Vivo) e poderá ser visto na íntegra no portal da Casa.