18/08/2014 13h05
 

Foram ouvidos nesta terça-feira o ex-vereador Oswaldo Duarte Filho, a funcionária pública da rede estadual, Elisa Gomes, e o jornalista Pedro Cadina.


            Novos depoentes foram ouvidos pela Comissão Municipal da Verdade "Alexandre Vannucchi Leme" na sétima audiência realizada na Câmara de Sorocaba na manhã desta segunda-feira, 18. Mais uma vez a reunião foi comandada pelo presidente da Comissão, vereador Izídio de Brito (PT), com a participação dos depoentes do dia Elisa Gomes, Pedro Cadina e Oswaldo Duarte Filho.

 

         Dando início aos relatos, Elisa Gomes, funcionária pública da rede estadual que participou do PCB e do MDB em Sorocaba, falou sobre sua participação política e social durante a Ditadura Militar. Elisa, hoje com 78 anos, foi professora e trabalhou na Secretaria da Saúde, quando, segundo destacou, teve contato com a dura realidade da época e sensibilizada passou a fazer contatos com militantes.

 

Em seguida foi convidada a participar do Partido Comunista sem, porém, envolvimento em sua liderança ou práticas revolucionárias. Elisa relatou que sofreu pressão psicológica por sua posição ideológica, mas não foi torturada. Citou ainda passagens que a marcaram como a morte do jovem sorocabano Alexandre Vannucchi e sua participação em uma rádio comunista, quando seu carro foi levado do estacionamento e encontrado em seguida, como uma forma de intimidação. Lembrou ainda sua participação na construção do monumento em homenagem a Vannucchi e que esteve presente no Congresso da Anistia em São Paulo.

 

Noite do Beijo: Dando continuidade aos depoimentos, o jornalista Pedro Cadina falou sobre sua participação da "Noite do Beijo" e como funcionário do jornal "Sorocaba Urgente". Perseguido político, o jornalista teve sua carreira profissional em Sorocaba ceifada. Cadina falou sobre o abuso da violência no episódio e o que a repressão sofrida no período representa ainda hoje em sua vida. Lembrou sobre sua participação no movimento estudantil no ABC Paulista, ainda no segundo grau, e depois em movimentos grevistas, já no mercado de trabalho.  

 

Em 1979 se mudou para Sorocaba, onde sua família se mudou anos antes. Durante este ano participou de eventos como a Semana da Liberdade, no Gabinete de Leitura, a inauguração da praça “Alexandre Vannucchi”, e reunião para instituição do jornal “Sorocaba Urgente”, além de outras reuniões com militantes. No ano seguinte entrou para a faculdade de Jornalismo e participou da fundação do jornal “Sorocaba Urgente” e do Partido dos Trabalhadores, além de uma Célula da USI Liberdade e Luta na cidade. Citou ainda o episódio em que, após colarem cartazes comunistas na Faculdade de Direito, foi revistado e encaminhado a delegacia pela polícia, junto com outro militante. Em 1980 participou da Comissão de Jovens do PT.

 

Encerrando sua manifestação, leu um texto escrito por ele sobre a “Noite do Beijo”, ocorrido em 1981, onde relata “os fatos festivos e trágicos”, como classificou, que aconteceram na Praça Fernando Prestes, e sua relação com o cenário da época no Brasil e no mundo. Também falou sobre a repercussão do ato e da falta de apoio do Partido dos Trabalhadores na organização da manifestação, apesar de após a noite, o PT ter sido responsabilizado pelo evento. Pedro Cadina também falou sobre a falta de preparo do grupo organizador e a ideia de que seria uma manifestação pequena, o que fugiu do controle ao reunir milhares de pessoas.

 

O jornalista relatou que seu discurso, gravado, foi parar na polícia, assim como fotos de sua manifestação. Também disse que tentaram encerrar o ato, sem sucesso, seguindo assim a repressão do ato pela polícia. O jornalista destacou que a Noite do Beijo foi nitidamente um evento midiático, organizado por jornalistas, o que chamou a atenção da população e da imprensa. Falou sobre a tentativa de sua incriminação, dentro da Lei de Segurança Nacional, e sobre a inviabilidade de continuar trabalhando em Sorocaba, quando se mudou para São Paulo junto com Carlos Batistella.

 

Luta pela redemocratização: Encerrando as oitivas, o advogado Oswaldo Duarte Filho deu seu depoimento. Oswaldinho Duarte foi o mais jovem vereador da história de Sorocaba, eleito pelo MDB, participando da luta pela redemocratização do Brasil. Filho de vereador, iniciou falando da carreira política de seu pai. Destacou que entre 1968 a 1972 os parlamentares não recebiam subsídios para trabalhar, neste ano seu pai concorreu como vice-prefeito pelo MDB não sendo eleito. Ainda jovem, o estudante Oswaldinho Duarte, começou sua trajetória política com reuniões no Gabinete de Leitura.  

 

Sobre este período, o depoente destacou como fato marcante a prisão do professor de história Miguel Trujillo Filho, que pregava a redemocratização do país, dentro da escola. Em seguida, lembrou que quando cursava o magistério e decidiu iniciar o curso de direito, saiu candidato a vereador após indicação publicada em jornal. Falou também da intimidação sofrida na época pelos parlamentares, assim como militantes que lutavam contra o regime.

 

Citou ainda casos de políticos cassados e ressaltou que as sessões na Câmara e os pronunciamentos eram sempre acompanhados por um delegado de polícia. O ex-vereador ressaltou que o Legislativo sorocabano teve um papel importante na redemocratização do país, afirmando que as grandes lideranças passaram pelo MDB. Também disse que a Faculdade de Direito de Sorocaba era conhecida na época como “Faculdade de Direita”, pois as manifestações eram proibidas no campus. “Foi uma passagem triste que não queremos ver nunca mais na política brasileira”, concluiu, lembrando ainda a inauguração da atual sede do Legislativo.    


            A Comissão da Verdade de Sorocaba, criada em março deste ano, é composta pelos vereadores Izídio de Brito (PT), como presidente, Anselmo Rolim Neto (PP) relator, e os membros Saulo do Afro Arts (PRP) e Neusa Maldonado (PSDB). Todos os depoimentos colhidos são gravados, arquivados e comporão o relatório final, que será enviado à Comissão Nacional da Verdade ainda este ano e ficará disponível às instituições interessadas.