Por iniciativa do vereador Waldecir Morelly (PRP), a Câmara Municipal realizou na manhã desta sexta-feira, 10, audiência pública para discutir a epidemia de dengue em Sorocaba. O último boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde contabilizou 37.914 casos de dengue no município, com 11 mortes confirmadas.
Com o intuito de mobilizar os deputados da região no sentido de buscar mais recursos para o combate à dengue, a audiência presidida por Morelly reuniu representante dos parlamentares Raul Marcelo (PSOL), Carlos Cezar (PSB) e Jeferson Campos (PSD). Os demais deputados convidados não compareceram nem enviaram representantes. Também participaram da discussão os vereadores Izídio de Brito (PT), Wanderley Diogo (PRP) e Neusa Maldonado (PSDB), o secretário de Saúde do Município, Francisco Fernandes, e a coordenadora de Vigilância Sanitária no Município, Daniela Valentim dos Santos.
O presidente da audiência destacou que o objetivo de sua realização foi buscar parcerias na busca de soluções, não apontar culpados. “Reclama-se tanto que a cidade passa por dificuldades de verbas e estamos acompanhando os casos de dengue que não diminuem. O convite foi extensivo a todos os deputados da região para que juntos pudéssemos tomar uma iniciativa. A cidade vive uma epidemia com 11 mortes e quase 38 mil casos. Tenho certeza que todos que aqui hoje estão comprometidos com a vida. A intenção não é achar culpado, a intenção é enfrentar o problema que já existe. Alguns não tiveram consciência da importância de estar aqui hoje”, disse.
Gastos com a Dengue: O vereador Waldecir Morelly questionou ao secretário de Saúde qual a colaboração que os deputados poderiam dar ao Município e o que faltam de recursos para combater a dengue, já que os números de caos que deveriam estar diminuindo, continuam crescendo.
Com relação aos gastos, o secretário informou que todos os dados estão sendo elencados em uma planilha para serem contabilizados e explicou que se trata de dinheiro suplementar, pois não estava no orçamento. Até 31 de março, o gasto com a dengue foi de aproximadamente de 3,2 milhões de reais, sendo que deverá ultrapassar os 7 milhões de reais até o mês de junho.
Daniela Valentim afirmou que o financiamento externo dos governos do Estado e da União não cobrem 25% dos gastos, todo o restante é pago pelo Município. Também afirmou que Sorocaba recebeu apenas 236 mil reais do Ministério da Saúde para cuidar da dengue em 2015, apenas para ações da Vigilância Sanitária.
Sobre a participação dos deputados da região, Francisco Fernandes disse que procuraram espontaneamente a prefeitura até o momento os deputados Carlos Cezar, Maria Lucia e Vitor Lippi. Disse ainda que através da deputada foi agendada uma reunião com a Secretaria Estadual de Saúde e que Vitor Lippi fez a ponte do Município com o Ministério da Saúde, que encaminhou dois médicos para auxiliar no combate à epidemia. Também lembrou que houve contato do governador Geraldo Alckmin com o prefeito Antonio Carlos Pannunzio.
Izídio de Brito lamentou a ausência dos candidatos do PSDB, que não enviaram representantes, como já ocorrido em outras ocasiões, “o que considerou uma falta de respeito com a Casa”. Também ressaltou que a responsabilidade da epidemia é a falta de ações preventivas e não diretamente dos deputados.
Representando os deputados Carlos Cezar e Jeferson Campos, Oliver Delgado lembrou que Cezar é autor da Lei Municipal 9165/2010 que obriga as imobiliárias a notificarem os casos de imóveis desocupados e que, como deputado estadual, está propondo projeto de educação ambiental na rede estadual de ensino. Sobre Campos, disse que o deputado federal esteve no último dia 26 no Ministério da Saúde solicitando verbas para o município.
Em nome do deputado estadual Raul Marcelo, Hugo Batalha lembrou que no primeiro pronunciamento do parlamentar na Assembleia, assim que assumiu o cargo, ele discutiu a epidemia em Sorocaba tanto para denunciar quanto para pleitear recursos. Disse ainda que há um limite constitucional no mandato do parlamentar e que cabe ao Executivo destinar as verbas e que o empenho do deputado é que Sorocaba seja classificada como prioritária pelo Governo do Estado.
Secretaria de Saúde: “Sorocaba vive um estado de emergência e ninguém poderia imaginar a força da epidemia. Milhares de toneladas de produtos inservíveis recolhidos em casas e empresas que foi um fator relevante para o agravamento dos casos. O número, embora o maior entre os municípios do mesmo porte, está sendo divulgado de forma transparente e coerente”, afirmou o secretário de Saúde, que disse ainda que o Município está colhendo os frutos nas últimas três semanas do trabalho que vem sendo feito, apesar do número grande de casos.
Francisco Fernandes detalhou o planejamento da secretaria que começou com o esclarecimento da população, incluindo a realização do “Dia D”, em 21 de fevereiro, e que foi ganhando força ao longo do tempo. O segundo passo foi acabar com os criadouros, ampliando os arrastões e a atividade da vigilância, com a contratação de 50 novos agentes, além das nebulizações dentro das residências e nos bairros. Na fase seguinte buscou-se melhorar as condições de atendimento nas unidades, com a abertura das salas de hidratação e do Centro de Monitoramento da Dengue para os casos mais graves. O último passo foi encontrar leitos hospitalares.
A vereadora Neusa Maldonado fez uma série de questionamentos ao secretário. Com relação aos imóveis fechados, ele respondeu que é feito através de liminar e após tratativa com os moradores, informando que foram sete residências visitadas via judicial. Sobre se a ausência de contêineres estaria atrelada à dengue, disse que a educação e cuidado no manjo do lixo é que faz a diferença, pois contêineres quebrados, sujos e abertos não resolvem o problema, se mal cuidado torna-se também um criadouro. O secretário ressaltou ainda que o combate à dengue é responsabilidade de todos e que é preciso educação. “Não é possível que a gente entenda como normal retirarmos quatro toneladas de lixo de uma única casa”, afirmou.
Neusa também quis saber a relação dos números suspeitos e constatados dentro do total anunciado. O secretário explicou que 100% dos casos suspeitos são contabilizados, sendo que perto de sete mil são efetivamente positivos conforme exames sorológicos, os demais foram calculados por critérios clínicos. Segundo o secretário, sete mil pessoas passam diariamente pelos PAs e UPHs do município no pronto atendimento e todos com sintomas são classificados como dengue para que posteriormente, caso não seja, sejam desclassificados, o que pode gerar uma diferença no número total.
Sobre a introdução do mosquito em Sorocaba, Daniela Valentim explicou que ocorreu no ano 2000 e que no Brasil as epidemias de dengue acontecem desde 1986. Também ressaltou que ter mosquito não é igual a ter dengue, ele precisa estar contaminado. Segundo a coordenadora, em 2013 o risco já era grande, pois já sabiam que havia muitos mosquitos. No ano seguinte, no município vizinho de Iperó houve muitos casos, o que aumentou a contaminação dos mosquitos em Sorocaba e que no início deste ano resultou no crescimento geométrico dos casos de dengue. Finalizou dizendo que no momento os casos não dobram mais de uma semana para outra, apesar do grande volume de casos.