Com o objetivo de debater a
política ambiental e a gestão de resíduos sólidos em Sorocaba, a Câmara
Municipal realizou audiência pública na tarde terça-feira, 3. A iniciativa
partiu do vereador Renan Santos (PCdoB), em parceria com estudantes que desenvolveram
projeto sobre o tema. O debate reuniu autoridades e pesquisadores da área do
meio ambiente, além de cooperativas e entidades.
Além do vereador proponente
da audiência, a mesa dos trabalhos foi composta pelas seguintes autoridades: o
presidente da Comissão de Meio Ambiente e de Proteção e Defesa dos Animais da
Câmara, vereador João Donizeti (PSDB); o secretário de Meio Ambiente, Parques e
Jardins, professor Maurício Mota; o secretário de Conservação, Serviços
Públicos e Obras e de Saneamento, Wilson Unterkisher Filho; e os professores da
Unesp, Gerson Araújo Medeiros, e da Uniso, Nobel Penteado de Freitas. Os
vereadores Iara Bernardi (PT), Fernanda Garcia (PSOL) e Luis Santos (PROS)
também participaram do encontro
Renan Santos deu início à
audiência saudando a professora Mara Kitamura e alunos secundaristas do colégio
Dom Aguirre que, após a realização e uma pesquisa, propuseram um debate público
sobre a coleta seletiva e os resíduos sólidos. De acordo com dados
apresentados, Sorocaba produz 500 toneladas de lixo ao dia sendo, deste total,
96% é domiciliar, 3% industrial e 1% hospitalar.
O presidente da Comissão de
Meio Ambiente lembrou ressaltou que 32% deste material poderiam ser reciclados,
mas, atualmente o Município recicla apenas 2%. “Sabemos que é um desafio muito
grande. Retrocedemos nos últimos anos, é preciso fazer esta autocrítica. O
assunto não tem sido tratado como política de governo”, frisou, defendendo o
investimento nas cooperativas e na remuneração e treinamento dos catadores de
material reciclável.
Já a vereadora Iara Bernardi
destacou que um dos maiores gastos da Prefeitura é com a coleta e transporte do
lixo, além de reforçar que não há no município uma efetiva política reversa.
“Esse é ponto que precisa ser debatido. Por que Sorocaba gasta tanto com
resíduos que ela não produz?”, disse. A vereadora apresentou um projeto,
deliberado nesta terça-feira que institui o Sistema de Logística Reversa de
Embalagens e Resíduos de Embalagens.
Estudos
e propostas – Representando os estudantes, Amanda Monteiro
falou sobre o estudo e apresentou algumas propostas dos alunos, como a
realização de campanhas educativas nas escolas públicas e privadas do Município
e também de campanhas publicitárias para a população em geral, assim como a
ampliação do investimento nas cooperativas já existentes, para promover o
aumento da coleta seletiva e do tempo útil do aterro de Iperó, além da retomada
da discussão sobre gestão do resíduo sólido na cidade.
Em seguida, os professores
Gerson Araújo Medeiros e Nobel Penteado de Freitas proferiram suas palestras
com estudos sobre a gestão de resíduos e avaliação do impacto ambiental, além
de apresentarem algumas propostas com possibilidade de aplicação para Sorocaba,
como alternativa ao cenário atual. Para Medeiros, a melhor opção hoje, em
relação ao custo-benefício, seria o aumento gradual de compostagem (começando
com 10% dos resíduos orgânicos) e reciclagem (partindo de 10% dos demais
resíduos).
O vereador Luis Santos (PROS)
lembrou que em mandatos anteriores trabalhou para desenvolver um projeto para a
criação de módulos de tratamento de resíduos, distribuídos pelas regiões da
cidade, como forma de melhorar a logística e reduzir o custo com transporte do
lixo, porém não houve avanço na proposta. Ele destacou também a importância da
conscientização da população sobre a redução na produção de lixo.
Na sequência, a vereadora Fernanda
Garcia (PSOL) sugeriu o aumento das parcerias entre prefeitura e universidades
para o desenvolvimento de novos projetos. Ela lamentou a quantidade de lixo que
poderia ser reciclado na cidade, porém é desperdiçado, e apresentou como
solução o apoio às cooperativas de reciclagem. A vereadora também destacou o
projeto Câmara Verde, de redução de uso de papeis no Legislativo, e cobrou o
Executivo para programar a mesma iniciativa e elaborar campanhas educativas nas
escolas.
O vereador João Donizeti
(PSDB) falou da necessidade de parcerias público-privadas para melhorar os índices
de gestão de resíduos na cidade. O professor Nobel Penteado de Freitas apontou
pontos emergenciais para a problemática do lixo em Sorocaba, que tem apenas 2%
de reciclagem. Para ele, o mais acessível seria a criação de políticas públicas
para incentivar a não geração, a redução e a reutilização de resíduos sólidos. “Temos
que ter um pouquinho de cada coisa para atingir os objetivos ambientais e
reduzir ao máximo a geração de resíduos”, disse o professor, colocando a Universidade
Sorocaba como parceira no desenvolvimento de soluções para a cidade.
Aurea Bueno, presidente da
Coreso (Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba), afirmou que as entidades possuem
capacidade de aumentar a reciclagem, porém sofrem com a falta de transporte
para coletar material. Segundo ela, com os três caminhões disponibilizados pela
prefeitura para a Coreso, é possível atender apenas 54 bairros. O vereador
Renan Santos questionou e foi informado que durante o auge da cooperativa eram mais
de 150 catadores em atuação, com 23 mil residências atendidas e cerca de 300
toneladas de lixo processado ao mês, em quatro galpões, enquanto hoje são dois
galpões, com 80 toneladas processadas ao mês. A vereadora Iara Bernardi
questionou o edital da prefeitura que prevê apenas duas cooperativas de
reciclagem em Sorocaba e pediu uma resposta sobre essa decisão que, segundo ela,
não proporciona incentivo às cooperativas.
Outras intervenções de
participantes da audiência apresentaram sugestões para melhorar a coleta
seletiva na cidade e também levantaram questões, como a capacidade do aterro com
a instalação de novos empreendimentos imobiliários na cidade, a possibilidade
de incentivos fiscais para iniciativas que redução da produção de resíduos e a
existência de projetos de reciclagem nas novas licitações para coleta de lixo
em Sorocaba. A representante dos catadores defendeu a categoria, lembrou que
90% são mulheres que sustentam famílias e destacou que a coleta seletiva é de
fundamental importância para a sociedade.
Considerações
-
Ao final, o secretário de Conservação, Serviços Públicos e Obras e de
Saneamento, Wilson Unterkisher Filho, fez considerações sobre os
questionamentos. Ele defendeu que a coleta seletiva é importante e afirmou que
a cidade tem projeto para ampliar o volume atual, chegando a 4% no próximo ano,
e argumentou que as cooperativas precisam crescer, mas sem depender do poder
público. Entre as medidas, estão o aumento dos PEVs (Postos de entrega
voluntária) e da frota de caminhões de lixo. Lembrou que há uma lei municipal,
em fase de regulamentação, que determina que os condomínios devem organizar o
lixo de forma seletiva, o que deve melhorar o nível de reciclagem, e afirmou
que a prefeita determinou a retomada dos ecopontos na cidade.
Sobre parceria pública
privada, explicou que existe um projeto para contrato de disposição final de
resíduos que, em contrapartida, gere material para cooperativas de reciclagem e
energia elétrica para o SAAE.
O secretário de Meio
Ambiente, Parques e Jardins, professor Maurício Mota, apontou que algumas das
sugestões apresentadas na audiência são direcionadas à pasta, e falou sobre as
atividades de conscientização desenvolvidas nas escolas do município. Ele
afirmou que pretende ampliar essas ações no próximo ano. Em relação a resíduos de
podas, disse que existe projeto piloto de compostagem e a ideia é que possa ser
ampliado nos próximos anos, até chegar a 100% de reaproveitamento. O secretário
também destacou que qualquer pessoa pode ter uma composteira em casa e que isso
contribuiria para a redução de resíduos.
Maurício Mota disse que uma
proposta que deve ser discutida é quanto ao modelo de cobrança da taxa de lixo,
que ele considera injusta por ser calculada por metro quadrada de área
construída. “À medida que cobra do individuou, estimula ele a reduzir”, explicou
o secretário, dando como exemplo cidades que calculam a cobrança de lixo de
acordo com o consumo de água.
Sobre parceria com
universidades, Maurício Mota afirmou que o executivo vai enviar um projeto de lei
para oferecer bolsas de mestrado e de doutorado a alunos que desenvolvam
estudos de interesse do município. A professora Mara Kitamura aproveitou para lembrar
que é necessário discutir a educação ambiental nas escolas de forma correta e
coerente.
No encerramento da audiência
pública, o vereador Renan Santos apontou alguns encaminhamentos definidos durante
o encontro. Entre eles estão formalizar os pedidos realizados pelos estudantes
na audiência, a campanha permanente de coleta seletivas nos veículos de
comunicação da Câmara Municipal, cobrar celeridade no aumento da política
pública de incentivo às cooperativas, pensar na criação de um fundo municipal
para políticas de reciclagem e resíduos sólidos, e consolidar as leis
municipais ambientais e em relação à coleta seletiva.
A audiência pública teve
transmissão ao vivo pela TV Câmara (Canal 31.3; Canal 4 da Vivo; e Canal 9 da
Vivo) e poderá ser vista na íntegra no portal e nas redes sociais da Casa.