A Câmara Municipal, por
iniciativa da vereadora Iara Bernardi (PT), realizou na noite de terça-feira
(10) uma audiência pública sobre o “Dia Internacional dos Direitos Humanos”,
celebrado na mesma data em que, no ano de 1948, o mundo adotou a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, criada para ser um ideal comum a ser atingido
por todos os povos e todas as nações. Além de debater o tema, o evento contou
com uma palestra do Juiz de Direito, Titular da Vara do Júri de Campinas, José
Henrique Rodrigues Torres, membro do Instituto Nacional de Pesquisa e Promoção
dos Direitos Humanos.
“Estamos aqui fazendo essa
audiência, quando comemoramos 71 anos da Declaração dos Direitos Humanos, e
queremos mesmo comemorar apesar das dificuldades. Eu vivi décadas que tiveram
avanços significados na pauta de direitos humanos”, destacou Iara Bernardi,
lembrado das lutas pela construção da lei que reconhece a homofobia como crime,
da pauta LGBT, da questão do feminicídio e dos direito da criança. Ela também
alertou para o retrocesso atual na pauta de direitos humanos, com genocídio de
indígenas, o incentivo a violência e a ameaça às legislações aprovadas. “O
momento que o pais passa hoje me toca pessoalmente, portanto façamos essa
audiência e no nosso dia uma ação de resistência”, pediu a vereadora.
A mesa principal do evento
foi presidida pela parlamentar e teve como integrantes, além do palestrante da
noite, o secretário de igualdade e assistência social, Paulo Henrique Soranz; a
pesquisadora e cientista social, Dra. Josefina de Fátima Tranquilin Silva; o presidente
da comissão de direito criminal e representante da comissão de direitos humanos
da OAB Sorocaba, Ricardo Laurete, que defendeu a iniciativa do debate sobre o
tema.
“A defesa dos direitos humanos
também é papel do legislativo. Lembrando que os primeiros ataques aos direitos
humanos, começam tomando espaços do parlamento e questionando a autoridade do parlamento,
tentando impor pela força as pautas autoritárias. A OAB também é uma
garantidora das liberdades, responsável e essencial à manutenção da justiça”,
afirmou Laurete.
O secretário Paulo Soranz chamou
a atenção para a atual polarização dos debates, que é desnecessária e minimiza
a amplitude das discussões. “Hoje é uma época difícil para debater diversos
temas, e é impressionante que a gente ainda precisa discutir os direitos
humanos, porque te gente que entende exatamente o oposto”, afirmou, lembrando
que são muitos os desafios enfrentados por quem atua para defender a dignidade
humana.
A pesquisadora Josefina de Fátima
Tranquilin Silva destacou a importância do evento, tendo em vista o aumento da
pobreza, do feminicídio, das mortes de pessoas trangêneras, de indígenas e da
população de pobres e pretos. “Tenho certeza que sairemos daqui mais empoderados
para a resistência”, disse.
Convidado especial da
audiência pública, o juiz José Henrique Rodrigues Torres palestrou sobre os
direitos humanos na visão da magistratura. Ele falou sobre a proposta de
trabalho por um código de ética global judicial, desenvolvido pela ONU e
norteado pelos direitos humanos, e que
serviu de base para o código nacional de magistratura elaborado pelo CNJ
(Conselho Nacional de Justiça) .
O palestrante também
destacou fatos que marcaram o país, como o período da ditadura, que violou a
democracia e os direitos humanos, e que resultou na constituição de 1988, que por
consequência aos abusos do período ditatorial proclamou a dignidade da pessoal
e a proeminência dos direitos humanos.
Após um retrospecto
histórico mundial sobre a evolução dos direitos, desde a Grécia antiga até os
diais atuais, juiz José Henrique Rodrigues Torres explicou o contexto da
Declaração Universal dos Direito Humanos, que teve como auge a 2ª Guerra
Mundial e os milhões de pessoas mortas, que enfrentaram situações precárias, a fome
e os diversos direitos violados. “Foi então que as nações se reúnem e decidem
dar uma basta no arbítrio, no autoritarismo, no abuso do poder dos estados
contra os cidadãos, e ai é criada a Declaração, em 10 de dezembro de 1948, que
marca o nascimento dos Direito Humanos”, afirmou.
O juiz ainda fez um balanço
da conjuntura dos direito humanos no Brasil, que seguem sendo atacados, com
preocupação sobre a situação dos presos no país, a tortura, o tratamento dos
doentes mentais, a preocupação com a saúde, das pessoas com necessidades
especiais, direitos dos idosos, das crianças e outras áreas que abrangem os
direitos humanos. “Nós estamos tratando da defesa da dignidade, da luta histórica
da preservação da dignidade, de uma luta imensa pra que sejam reconhecidos e
garantidos os direitos humanos”, finalizou.