05/05/2020 17h13
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O pediatra Francisco Coutinho defendeu o distanciamento social e enfatizou a importância das medidas de higiene, como uso de máscara

O pediatra Francisco Coutinho, que contraiu o Covid-19 e está curado, concedeu entrevista à TV Câmara quando falou sobre as medidas de prevenção da doença, enfatizando a importância do distanciamento para contê-la. O médico contou que contraiu o Covid-19 na volta de uma viagem à Europa, logo no início da pandemia, quando o voo em que estava não pôde entrar em Santiago, devido ao fechamento da capital chilena, e foi desviado para Nova York. “Como eu tenho 58 anos, tenho uma boa saúde e pratico esporte, achei que se pegasse a doença os sintomas seriam leves”, contou. 

Entretanto, Francisco Coutinho disse que precisou ser internado. Entrou em quarentena em casa, quando chegou de viagem, e, no segundo dia, ao sentir uma leve febre, que parecia de origem viral, procurou atendimento médico, quando o exame mostrou que seu pulmão estava comprometido. “Fiquei num quarto isolado, sem poder ver minha família. Só via a equipe de enfermagem e a moça que fazia a limpeza do quarto. Duas pessoas que foram internadas comigo, uma senhora de 73 anos e um senhor de 83 anos, foram para a UTI logo no outro dia de manhã. Então senti uma enorme angústia de pensar que poderia ser o próximo”, contou, acrescentando que os sintomas pioraram a partir desse momento.

O médico pediatra observou que a Covid-19, em muitos aspectos, ainda é uma incógnita até para a comunidade médica, tanto que ele, como paciente, foi o primeiro caso dos dois médicos que o atenderam quando se internou. “Ainda não existe nenhum medicamento comprovadamente eficaz e o que vai fazer diferença é quando se conseguir encontrar uma vacina. Os protocolos de tratamento ainda são empíricos, experimentais, uns pacientes respondem ao tratamento, outros não”, lamenta. “Ficamos impressionados quando um Boeing cai com 300 pessoas. Aqui no Brasil, com a Covid-19, está caindo praticamente um Boeing por dia”, afirmou, referindo-se à estatística de óbitos motivados pela doença.

Medo do contágio – Francisco Coutinho afirma que contrair a doença causa certo estigma pelo medo que as pessoas têm do contágio e contou que sua esposa, nas poucas vezes em que se viu obrigada a sair de casa, já que procuravam fazer compras à distância, era vista com receio pelas outras pessoas. “Quando saí de casa, depois de 30 dias, as pessoas falavam comigo de longe e colocavam imediatamente a máscara, em que pese eu já ter feito exame e não ter mais o vírus”, afirma, acrescentando que a imunidade que adquiriu vai colaborar com seu trabalho como médico.

O pediatra observou que, como ainda não existe vacina, a chance de toda a população, agora ou mais adiante, vir a entrar em contato com o coronavírus é muito grande, pois sua transmissibilidade é alta. Enfatizou que as comorbidades, como hipertensão e diabetes, é que pioram o prognóstico. “O fundamental é proteger o grupo de risco, como o idoso, o obeso, o hipertenso, quem tem alguma comorbidade”, alerta, enfatizando que é importante manter o distanciamento social e liberar as atividades de forma gradual. 

O médico também explicou que o “grande problema na ciência biológica chama-se inflamação” e que as pessoas com doenças crônicas têm uma inflamação subclínica crônica. “Quando a pessoa tem um quadro de diabetes, hipertensão, câncer, ou mesmo obesidade, o seu sistema inflamatório não é agudo, mas crônico, e está sempre se defendendo. Então, quando chega uma doença, a resposta do organismo é exagerada. A inflamação é a base de todas as nossas doenças, para o bem e para o mal”, explicou. O médico também discorreu sobre as cirurgias bariátricas, observando que se o indivíduo fez esse tipo de cirurgia e está tomando os devidos complementos, não faz parte do grupo de risco.

Medidas de prevenção – Para Francisco Coutinho, o distanciamento social, entre outros fatores, foi decisivo para evitar uma explosão de casos como na Europa, especialmente em Sorocaba, que, segundo ele, tem apresentado poucos óbitos e um índice baixos de casos. Alerta, entretanto, que não há testagem ampla, o que dificulta saber a extensão do contágio.

O médico destacou a importância de se manterem as medidas de prevenção: “Não deixem de fazer o mínimo essencial: lavem bem as mãos, usem máscaras, evitem aglomerações, mantenham o distanciamento mínimo de um metro e meio entre as pessoas; usem mais os serviços de entrega ou mandem só uma pessoa da família ao supermercado, a que não for do grupo de risco. A doença está diminuindo, mas o vírus não foi embora do Brasil nem de Sorocaba” – alerta.

No final da entrevista, Francisco Coutinho externou seus sentimentos em relação à doença: “Passava na minha cabeça que eu não iria voltar para casa, que eu não iria mais ver meus filhos e que eles jamais iriam me ver de novo, porque se eu viesse a óbito não teria nem adeus, teria o caixão lacrado. Graças a Deus, não fui para UTI, mas esse sentimento é o sentimento de quem teve a doença. Por isso, cuidem-se e cuidem daqueles são do grupo de risco”, disse o médico, que também lamentou a morte, por coronavírus, do enfermeiro Douglas Barbosa de Medeiros, de 33 anos, que integrava a equipe que o atendeu.

A entrevista, transmitida ao vivo pela TV Câmara e também pela Rádio Câmara pode ser vista na íntegra no portal da Câmara e nas redes sociais da Casa.