Responsável pelo Casarão de Brigadeiro Tobias, Sônia Nanci Paes ressaltou o papel dos tropeiros na integração do país
A importância das tradições tropeiras na cultura sorocabana foi o tema da entrevista que a historiadora Sônia Nanci Paes, responsável pelo Casarão de Brigadeiro Tobias, concedeu à Rádio Câmara, virtualmente, na manhã desta quarta-feira, 27, como parte das comemorações da Semana do Tropeirismo. “O tropeiro era um de nós, era um caipira como todos nós”, afirma a historiadora, lembrando que a saga tropeira deixou suas marcas no próprio traçado urbano da cidade.
“O próprio arruamento de Sorocaba traz as marcas do tropeirismo. As ruas estreitas do centro e a Rua da Penha, que é muito longa, são reflexos do caminho das tropas, assim como a vocação dos sorocabanos para o comércio”, afirma Sônia Paes. “O tropeirismo não foi um período qualquer. Ele foi importante não apenas para Sorocaba, mas para todo o Brasil. Sorocaba ficou conhecida internacionalmente por suas feiras de muares”, enfatiza.
A historiadora destaca a importância de se comemorar a Semana do Tropeiro, que, neste ano, chega a sua 53ª edição, e ressalta que a criação desse evento anual deve muito à professora Vera Job. “A professora Vera Job é uma grande especialista em tropeirismo e foi quem criou essa semana há mais de 50 anos, à frente de um grupo que contou, na época, com Mário Matos, hoje no Rio Grande do Sul, o historiador Adolfo Frioli e Luiz de Almeida Marins, então secretário de Educação e Cultura. Eles trabalharam sob a orientação do historiador Aloisio de Almeida para preservar essa tradição”, destaca.
O Dia do Tropeiro é comemorado anualmente no dia 22 de maio, por força da Lei 11.171, de 16 de setembro de 2015, de autoria do vereador Luis Santos (Republicanos), que instituiu a referida data no calendário oficial do município. Também da autoria de Luis Santos, a Lei 11.086, de 22 de abril de 2015, institui o Município de Sorocaba como a “Capital do Tropeirismo”. Já a Lei 5.897, de 4 de maio de 1999, de autoria do vereador Marinho Marte (PP), cria o “Memorial do Tropeiro” no município.
Papel dos sorocabanos – Sônia Paes lembra que, no século XVIII, quando surgiu o tropeirismo, o território de Sorocaba era muito mais extenso que o de hoje, fazendo divisa com Itu e prosseguindo até Iguape e Curitiba, no Paraná. O sorocabano buscava os muares nos pampas, onde foram utilizados nas minas de prata de Potosi, na Bolívia. Sônia Paes explica que o muar é consequência do cruzamento do jumento com a égua, que resulta no burro (macho) e a mula (fêmea), ambos estéreis. “Esses animais eram utilizados para o trabalho pesado e costumavam andar cerca de 30 quilômetros por dia, passando a substituir os índios e os escravos, até então utilizados no transporte de carga”, observa.
“O tropeiro era um operário. Ele não era o dono da tropa, mas quem buscava os animais no sul do Brasil, que, na época, era mais atrasado do que norte e o centro do país”, conta Nanci Paes, lembrando que, com o Registro de Animais e a Feira de Muares, Sorocaba tornou-se o centro do tropeirismo no país. Segundo a historiadora, a Feira de Muares com o menor nível de comercialização vendeu 5 mil animais, enquanto a feira com melhor movimento chegou a vender 200 mil animais.
A historiadora explicou que os muares, devido à necessidade de pastagem, ficavam nos campos atrás do Morro de Araçoiaba, enquanto compradores e vendedores se movimentavam pela cidade, que reunia uma série de atividades em torno da Feira de Muares, inclusive espetáculos teatrais e circenses. Cada tropa costumava contar com 200 animais, tocados por cinco tropeiros. Nanci Paes ressalta que, para aferir a importância do tropeirismo, basta lembrar que se criou um imposto sobre a venda de muares para reconstruir Lisboa, que foi destruída por um terremoto em 1755.
Nanci Paes também discorreu sobre a culinária tropeira, como o feijão tropeiro, que, conforme observa, é uma comida de estrada. “O feijão tropeiro que comemos hoje é um feijão tropeiro modernizado. Na época, os tropeiros comiam feijão e carne seca, sem farinha. Também levavam paçoca de carne, feita com farinha de milho, que durava muito”, explica a historiadora. Ela também desmitifica o chamado “café tropeiro”, pois, segundo ela, os tropeiros tomavam mate, de origem indígena, pois o café, na época, era um produto caro.
Nanci Paes também destacou a atuação das mulheres na cultura tropeira. “A mulher teve um papel preponderante no tropeirismo. Enquanto os homens estavam fora, as mulheres é que administravam a casa e patrimônio. Muitas delas se caracterizaram como empreendedoras, inclusive financiando a compra de tropas”, acentua Nanci Paes. No final da entrevista, a historiadora ressaltou a importância das leis que instituíram as comemorações tropeiras no município, com o objetivo de manter viva essa tradição.
A entrevista, transmitida ao vivo pela Rádio Câmara e pela TV Câmara (Canal 31.3; Canal 4 da NET, e Canal 9 da Vivo), ficará disponível no portal da Câmara Municipal e nas redes sociais da Casa.