13/09/2021 11h15
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A iniciativa foi da vereadora Fernanda Garcia (PSOL), que está promovendo um ciclo de debates sobre a crise hídrica

Com o objetivo de discutir a crise hídrica, com foco na gestão da água e no modelo de barragens, o programa “Câmara Debate”, da TV Câmara ouviu dois especialistas no assunto: o economista e antropólogo Diego Ortiz, coordenador estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), e a antropóloga Mariana Faiad, doutora em Sociologia pela Unicamp, que pesquisou a crise hídrica na Índia. A iniciativa foi da vereadora Fernanda Garcia (PSOL) e o programa foi levado ao ar no final da tarde de sexta-feira, 10. “A população mais carente é sempre a que sofre mais com a crise hídrica”, afirmou a vereadora no início do programa, ao justificar o ciclo de debates sobre o assunto.

Iniciado em 1991 e presente em 20 Estados do Brasil, o Movimento dos Atingidos por Barragens nasceu com o objetivo de defender os direitos dos atingidos por barragens, mas também as pessoas que integram as bacias em que se encontra as barragens, além de discutir, também, a questão das tarifas. Segundo Diego Ortiz, só o Estado de São Paulo conta com cerca de 7 mil represas. “De alguma maneira aquele que paga por uma energia cara, pelo fato de ela ser produzida de maneira injusta, também é um atingido por barragens”, observa.

O Movimento dos Atingidos por barragem tem três objetivos, afirma Diego Ortiz: a luta pelos direitos dos diretamente atingidos; a luta por um projeto energético-popular e a luta pela transformação social. “Existem mais de 600 projetos de barragens possíveis no Estado de São Paulo”, observa. Também criticou o modelo de gestão das barragens, sob a administração das empresas de energia, que, segundo ele, estão mais preocupadas em garantir o preço das tarifas. “O povo perde duas vezes: fica sem água e paga uma conta mais cara”, denuncia, lembrando que o item com maior impacto no aumento da inflação é a tarifa de energia elétrica.

Brasil e Índia – A professora Mariana Faiad traçou um paralelo entre a crise hídrica na Índia e no Brasil e alertou que o Brasil deve tomar medidas preventivas para evitar que o país venha a viver os mesmos problemas enfrentados pela Índia. “A estiagem está aumentando. O período de estiagem que sempre existe, a cada ano está maior, ao mesmo tempo em que as chuvas se concentram em poucos dias, gerando inundações”, observa, enfatizando que a água é um tema transversal, que deve perpassar todos os assuntos devido à sua condição essencial para a vida.

A crise hídrica na Índia está em situação muito pior que a do Brasil, segundo Mariana Faiad, uma vez que o país possui 1,388 bilhão de habitantes, mas dispõe de apenas 4% das reservas de água doce do mundo, enquanto o Brasil, com 213 milhões de habitantes, dispõe de 12% das reservas de água doce. Mas a pesquisadora alerta que essa água doce se concentra na Amazônia e não nas regiões de maior população, onde também se encontram os rios mais poluídos, como o Tietê, em São Paulo, e o Iguaçu, no Paraná. Por isso, alerta que o Brasil precisa observar o que acontece na Índia, especialmente em Nova Delhi, a capital, cuja situação hídrica, segundo ela, tem semelhança com a cidade de São Paulo.

“Mesmo os bairros mais nobres de Nova Delhi não possuem abastecimento de água contínuo. A água chega duas vezes por dia. Então, quem tem dinheiro para comprar um reservatório gigante consegue minimizar o problema, mas que não tem sofre com a falta d’água, o que é uma injustiça social”. Segundo ela, uma cidade do sul da Índia chegou a receber a distinção de ser a primeira cidade do país a contar com abastecimento de água potável 24 por dia, sete dias por semana. “Se continuarmos do jeito que está, também vamos chegar a esse ponto, e precisamos agir antes que isso aconteça”, alerta, observando que, tanto no Brasil quanto na Índia, a legislação prevê que a gestão da água seja debatida com a população.

Os especialistas também discutiram a importância da educação popular sobre a crise hídrica, defendendo medidas que possam melhorar o abastecimento, como reflorestamento e gestão de demanda, em vez de simplesmente construir novas barragens, que, segundo eles, configura, inclusive, uma forma de negócio para as próprias empreiteiras responsáveis por essas construções, conforme acentuou Diego Ortiz. Por fim, a vereadora Fernanda Garcia (PSOL) lembrou que, no dia 24 de setembro, será realizada uma audiência pública sobre a crise hídrica, fechando o ciclo de debates, que terá continuidade na próxima sexta-feira e ficará disponível nas redes sociais da Câmara de Sorocaba.