06/10/2021 20h10
atualizado em: 06/10/2021 20h10
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Presidido por Iara Bernardi, encontro teve participação de vários moradores de Santa Rosália, que são contra a construção no bairro

Vereadora Iara BernardiPor iniciativa da vereadora Iara Bernardi (PT), foi realizada no plenário da Câmara de Sorocaba, na tarde desta quarta-feira, 6, uma audiência pública para debater o projeto da implantação de uma nova rodoviária para a cidade no bairro de Santa Rosália. O encontro teve a participação dos vereadores Fábio Simoa (Republicanos), Fernanda Garcia (PSOL), Fernando Dini (MDB), Ítalo Moreira (PSC), João Donizeti (PSDB), Péricles Régis (MDB) e Silvano Jr. (Republicanos), além de representantes da Urbes e moradores do referido bairro.

Iara Bernardi iniciou os trabalho criticando o fato do prefeito Rodrigo Manga ter divulgado para a imprensa a intenção de construir a rodoviária no bairro Santa Rosália sem antes ter apresentado o projeto à Câmara Municipal. “O projeto foi apresentado ontem para apenas nove pessoas”, reclamou.

A vereadora concordou que há a necessidade de uma nova rodoviária para a cidade, pois, segundo ela, a atual está ultrapassada. No entanto, ressaltou que de acordo com o Plano Diretor do município essa construção deve ser realizada em área próxima às rodovias Celso Charuri, Raposo Tavares e Castelinho, na Zona Leste.

Apresentação do projetoApresentação do projeto – O diretor de Transporte Urbano da Urbes, Adriano Brasil, realizou a apresentação do projeto arquitetônico da nova rodoviária em Santa Rosália. O representante da autarquia afirmou, entretanto, que há outras propostas de locais para a implantação da estação, como a Avenida Juvenal de Campos e área do Jardim Eldorado.

Segundo ele, a previsão do Plano Diretor de instalar a rodoviária nas margens da Rodovia Celso Charuri levava em conta a previsão de implantação de um trem passando pelo local, o que, segundo ele, foi descartado. “Sem o trilho, a área é muito distante e fica ruim para a integração modal”.

Quanto à ideia da construção no bairro Santa Rosália, o diretor da Urbes afirmou que leva em conta a facilidade de acesso à cidade, por conta da localização. “Seria um acesso bom em termos de deslocamento. Tem conexão rápida com a Zona Norte, ciclovia, transporte público próximo, espaço para Uber e táxi”, afirmou.

Adriano Brasil acrescentou que o projeto, com área total construída de 42 mil metros quadrados, tem previsão para mais de 40 baias de ônibus, enquanto a rodoviária atual possui apenas 13. Além disso, segundo ele o projeto contempla, além da estação rodoviária, um terminal urbano e área de serviços. “É um conceito novo de mobilidade com serviços e contará com academia, área de alimentação, cinema...”, explicou.

Encerrando sua participação, o diretor da Urbes esclareceu que a área prevista para a construção é de dois terrenos particulares, que precisariam ser desapropriados.

Vereador Ítalo MoreiraManifestação dos parlamentares – Ítalo Moreira defendeu que a comunidade seja ouvida e antecipou que os moradores de Santa Rosália não concordam com a proposta por se tratar de um bairro com características residenciais. Além disso, o vereador defendeu o cumprimento das normas de zoneamento. “O Plano Diretor não permite a instalação ali e a lei deve ser cumprida”, afirmou.

No mesmo sentido, Silvano Jr., que é morador de região próxima à proposta para a instalação da nova rodoviária, destacou que, além de proibir o uso do referido local, o próprio Plano Diretor aponta a melhor localidade para a construção, próxima à Castelinho.

O vereador Péricles Régis criticou o fato de ter sido realizada uma reunião com poucos moradores do bairro e fechada para a imprensa. “Se não tem o que esconder, abra a público e faça tudo com transparência”, defendeu, acrescentando que faltam ao projeto diversos estudos de viabilidade do local. “O projeto é bonito, mas papel aceita tudo. Mais do que uma obra bonita, precisamos de viabilidade técnica”, concluiu.

Vereador João DonizetiO líder do governo na Câmara Municipal, João Donizeti, acrescentou que o projeto exige todo um conjunto de ações como licença ambiental, estudo de impacto de vizinhança e de impacto ao sistema viário. O vereador acrescentou que o conceito para a rodoviária precisa ser mais amplo. “Deve contemplar um sistema multimodal, rodoviário, metroviário, ciclístico, de transporte público. Não consigo imaginar como comportar todo esse conceito mais amplo no entroncamento da marginal”, afirmou.

O vereador Fábio Simoa contou que preside uma comissão especial na Câmara Municipal de estudos da nova rodoviária, integrada também por Iara Bernardi e João Donizeti. Simoa se queixou da comissão não ter sido informada sobre as reuniões realizadas sobre o assunto e cobrou maior atenção para o Legislativo. 

Fernanda Garcia criticou o fato do governo, segundo ela assim como em outros assuntos, não consultar os conselhos municipais. A vereadora também se manifestou contra o projeto e destacou seus possíveis impactos negativos. “O grande problema é em relação ao impacto social. Pode acarretar vários problemas ambientais. A apresentação é belíssima e sedutora, mas na prática vem recheada de dúvidas e lacunas que podem prejudicar a população”, argumentou.

Por fim, o vereador Fernando Dini destacou a importância da opinião da população. “A prioridade é a voz do povo. É nossa obrigação no Legislativo servir de caixa de ressonância da sociedade para mostrar ao Executivo o caminho a ser seguido. Tenho certeza absoluta de que a comunidade unida, organizada, vai trazer os benefícios que vocês querem”, afirmou, dirigindo-se aos moradores do bairro presentes na audiência pública.

Ex-vereador Engenheiro MartinezOpinião da população – O ex-vereador Engenheiro Martinez, morador de Santa Rosália, manifestou-se contra a implantação da rodoviária no bairro. “O que tem lá é só o plano para usar o terreno, pois não tem o que fazer com aquela área alagada e querem empurrar para a rodoviária”, afirmou.

Martinez disse também que a rodoviária atual tem espaço disponível próximo para ampliação. “Tem um estacionamento grande e o supermercado em cima. O espaço pode ser melhor aproveitado”, argumentou.

O líder comunitário Cláudio Robles defendeu que o projeto para a nova rodoviária parta de premissas de transporte, projetando o desenvolvimento da cidade. “Tem que pensar na ligação de Sorocaba com o oceano Pacífico, a carga que vem do porto, tem que estar ligada com o aeroporto, com o BRT, tem que facilitar todos esses aspectos. Antes de discutir o local, precisa-se avaliar essas premissas”.

Ana Regina, moradora de Santa Rosália, criticou o fato de todo o projeto ter sido feito sem estudo ou planejamento. Carlos Eduardo dos Reis Leal, vice-presidente da associação de moradores do bairro, acrescentou que é inviável a implantação na área pretendida, pois, segundo ele, é uma área de várzea e, portanto, de preservação permanente, além de estar situada em uma zona residencial.

O morador Gustavo Marinho criticou a falta de informações sobre o valor para aquisição da referida área. “É um dos metros quadrados mais caros de Sorocaba”, afirmou e questionou, em seguida, se a Prefeitura já não possui áreas próprias para a instalação, que não onerem o município.

A moradora Cristiane Castanho pediu respeito aos habitantes do bairro e salientou que apenas o fato do prefeito ter anunciado um plano para construção da rodoviária no local já abalou a tranquilidade de munícipes, que, assim como ela, temem os impactos em suas vidas e se preocupam com riscos de desapropriações de suas casas.

Pedro Diniz, também morador do bairro, reiterou que há 60 dias o prefeito fala no assunto e isso está gerando muita preocupação. Ele acrescentou que os moradores recorrerão a todos os recursos legais, na Justiça, para impedir a construção.

No fim da audiência, o ex-vereador Engenheiro Martinez reproduziu uma mensagem em áudio enviada a ele pelo prefeito Rodrigo Manga, afirmando que a proposta será reavaliada e que nenhuma decisão será tomada sem consultar a população.

Encerrando a discussão, Iara Bernardi afirmou que o debate precisa ser aprofundado, de forma aberta a toda a população e à imprensa, e que a Câmara Municipal cobrará isso da Prefeitura. A vereadora afirmou que também exigirá explicações sobre a origem do projeto apresentado na audiência pública, que, segundo o diretor da Urbes, foi feito como uma forma de medida mitigadora.